quarta-feira, janeiro 06, 2010

Viva lá...

e não aqui.

- Você tem até os 30 anos para fazer uma revolução. Depois acaba.

- O quê? Até os 30 anos? Puxa, então tenho pouco tempo!

Com a velhice vai-se a ousadia. Um dia você amadurece, engorda e sua vida pode ser representada por uma cadeira de pouco aconchego dentro de uma sala pequena e mal ventilada. Não há campos ou sóis, vento nos cabelos ou uma estrada infinita, existe pouco espaço, pouco fôlego, uma calça apertada e 8h a serem cumpridas. Compridas.

E com a velhice vai-se a ousadia. Sua cabeça não funciona mais tão rapido e você não consegue criar mundos infindáveis e impossíveis que tantos gênios sonham para si na janela de seus quartos. Mundos que com a juventude não são possíveis de se construir e que com a velhice não se vislumbram mais. A cabeça nem consegue, ela nem tenta ir longe, já treinada a pensar no palpável e não no impossível. O coração até acelera e ensaia uma urgência que corre do estomâgo à boca, passando pelos gênes, quando se depara com a novidade, com a beleza, com a tentação. Mas o coração já é cansado, seus sonhos já foram maltratados no passado e agora se dá por vencido pela cabeça treinada. O fôlego tímido que tenta saltar e acelerar o pensamento se encosta fatigado, corpo e mente fatigados dentro da sala pequena, da carcaça obesa e da calça apertada.

O coração palpita ao lembrar da frase "Você tem até os 30 anos". Há pouco tempo, há urgência, mas os poros não se eriçam mais. Os olhos ensaiam lágrimas, olhos que miravam brilho que faziam os labios sorrirem, nem mesmo eles ousam negar a realidade e a lágrima não corre. Paralisa.

Vivo presa dentro de mim, sonhos e desejos presos no corpo que antes fora instrumento e agora é uma prisão. Antes havia angustia por viver, agora se vive com angustia. Fizeram de mim o que não quis. Viva la revolución! Há que se prender, pra se libertar. Minha vida tem sido uma prisão consentida em busca da liberdade. Liberdade dos sonhos, dos desejos e dessa roda de várias variáveis que levam ao mesmo caminho viciado.

Número 12 é o sacrifício e esse é o ano 10. Não há nenhuma relação nisso. E eu que inventei de ser hedonista, to pagando os pecados.

Viva la revolución é só um eco. Chega tarde.