Questionamentos filosóficos são a minha tônica atual, assim como da ciência para todo o sempre. Ando meio próxima da ciência ultimamente.
Dia desses conclui que o problema do psicólogo é: entender o mundo, mas não poder mudá-lo. Fruto de muita observação, reflexão, contradições e dor, isto não é apenas uma afirmação, mas uma verdade. Lembro-me que uma professora minha da faculdade, ao discutir a profissão e as soluções que a mesma deveria dar ao que se propunha, nos demonstrava brilhantemente que a origem dos problemas psicosociais não está na super-estrutura, mas na infra-estrutura e que, portanto, problemas psicosociais não podem ser resolvidos com psicoterapias, mas que o buraco era muito mais embaixo. Quem lida com os problemas infra-estruturais de um país, uma sociedade, uma organização econômica certamente não é o psicólogo. "E para que raios serve um psicólogo então?" "Para adaptar!" "De que maneira o psicólogo vai resolver a dor subjetiva inerente a cada ser humano?" "Adaptando!". E mesmo sabendo disso eu neguei a realidade e fui para o batente trabalhar de psicóloga, acreditando poder mudar a realidade. Agora encaro problemas, questionamentos e confusões de uma pessoa que entende profundamente o mundo, mas não pode mudá-lo.
Tenho me preocupado com o futuro de algumas coisas ultimamente - com o futuro do meu trabalho, com o futuro dos meus planos, com o futuro da educação formal, com o futuro da instituição "família", com o futuro da humanidade, com o futuro da sociedade frente aos avanços técnológicos, que são bons, de fato, sim; mas que parecem ter assumido um fim em si e não um fim para o homem. Somos lerdos, a velocidade do pensamento não acompanha a velocidade da técnica, criamos algo que não somos capazes de manipular, ou manipulamos sem condições básicas para tal. Complicado, né? Eu acho que o mundo vai pertencer aos ansiosos e aos hiperativos. E eu tentando "curá-los do mal". Na na ni na não. Não mais! O mundo será deles, tenho certeza. Só ansiosos e hiperativos são capazes de acompanhar a tecnologia atual, só eles estão no ritmo certo. Eu até gostaria de saber se o índice de pessoas ansiosas e hiperativas atualmente é maior do que a algumas décadas atrás. Não duvido que seja maior e não duvido que tenda a crescer e isto certamente tem a ver com a tecnologia.
E o que se há de fazer com aquelas pessoas estilo "de modê", aquelas que precisam de maior tempo para elaborar os fatos, aquelas que gostam de pensar, aquelas que primam pelo amor e pela contemplação, sofrem com o tempo e o porvir, pois sabem que não o alcançarão e estão mais para filósofo do que para técnico? É com pesar que eu lhes respondo - elas sucumbirão. Sucumbirão como vêm sucumbindo há alguns séculos. Sucumbirão de tristeza com suas reflexões, sucumbirão com a amargura da vida e se entregarão aos mais variados tipos de vícios, pois a verdade e a ciência são feitas de dor e não haverá psicólogo para curar essa dor, somente vícios.
Pensando na História da Humanidade na perspectiva ocidental eu percebo que existiu o tempo das guerras e conquistas territoriais, em que o que era importante era batalhar, morrer pela terra e pelo povo e ter honra. Pessoas agressivas e corajosas, certamente eram felizes nessa época. Os cagões que se ferrem. Depois houve o tempo das artes e da filosofia, ah a beleza, a estética e a moral, as descobertas e a exploração. Os artistas e aventureiros deviam ter sido muito felizes. Depois houve o tempo da escuridão, mais batalhas, feudalismo e ignorância. Eu não sei se era possível existir felicidade nessa época, mas certamente os cientistas não eram bem quistos. E então veio a maravilhosa revolução das máquinas e produção e viemos para cá, somos felizes depois da invenção da informática, para executar tarefas é possível perde muito menos tempo, até o tempo em que ele não exista mais. As pessoas não dormem mais para estudarem para concursos, para cumprirem cargas de trabalho quadruplicadas e terem dinheiro para sobreviver e tudo isso é aplaudido como característica dos bravos. As causas sintomáticas disso são insonia, ansiedade, gastrite, dentre outras perturbações somáticas. Mas afinal, a técnica encontrará uma maneira de aplacar tais dores, afinal, o mundo pertence aos hiperativos e ansiosos.
E o que se há de fazer com uma pessoa como eu? Sempre desconfiei de que o mundo não tivesse um lugar pra mim, temo que não tenha lugar para todos. Seremos a escória da humanidade que os produtores insandecidos carregam nas costas, nos encheremos de vícios e sofreremos, ou, nos adaptamos.
Quisera eu ter sido bardo na Idade Média ou boêmio na França do século XIX, pois eles, apesar de tudo, escreviam a História, para um dia ser contada a outros. Temo de que não vá mais haver História, pois não haverá tempo. Einstein, onde está você?
E que a sentença seja decretada.