segunda-feira, setembro 11, 2006

A Laranja Mecânica

(...) É que quando eu cheguei por aqui
Eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e Av. São João

Quando eu te encarei frente a frente
Não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto
O que vi de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio
O que não é espelho
E a mente apavora
O que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes
Quando não somos mutantes

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso
Do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas
Nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue
E destrói coisas belas

Da feia fumaça que sobe
Apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas
De campos, espaços
Tuas oficinas de florestas
Teus deuses da chuva
Pan Américas de Áfricas utópicas
Do mundo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
Que os novos baianos passeiam
Na tua garoa
E novos baianos te podem curtir
Numa boa

(Caetano Veloso - Sampa)

Por que alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga e a Av. São João? Por quê?
O zoológico social dos meus devaneios, confesso que São Paulo é uma das, se não A mais, cidades mais fodas do mundo. Feia, fedida, suja, cheia, grande, extrema por todos os extremos e por que ainda assim é tão encantadora? Por que me desperta esse amor e essa confusão? Por quê?
Amo a poesia concreta de todas as esquinas que suporta gente miserável, maldita e não comporta ninguém. Por todas as ruas e canteiros, por que aquelas pessoas? O que foi feito de suas vidas, qual o sistema que move essa estrutura ilógica? Suas vidas foram expropriadas. O particular não se torna coletivo, mas sim massa disforme do meu zoológico ilógico irracional-tecnológico. Massa de humano, bicho social que se torna unidade sem história, sem identidade. O todo não se reconhece no particular.
E ainda assim, linda.
Cidade com nome de santo e lógica insana; de massa de gente com passos largos, apressadas, desembestadas para chegar em casa. O balé duro e descompensado do rush.
Não importa se quatrocentão, do playboy ao mais ilustre mendigo, todos iguais na estrutura desigual da cidade fantasia; realidade difícil, realidade.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

O HOMEM E O POETA

Não se apaixone pelo homem,
pois não é uma escolha perfeita.
Se apaixone pelo poeta
é ele que empunha a caneta.

O homem não domina as palavras,
nem o proprio pensamento,
o poeta, que empunha a caneta
eterniza qualquer sentimento.

O homem tem seus defeitos
suas manias e segredos,
o poeta, que empunha a caneta
vence a tudo, sem medo.

O homem é apenas um menino,
duvida até da esperança,
o poeta, que empunha a caneta
escreve sobre o mundo, com segurança.

O homem chora, as vezes é fraco
se agarra na falsa beleza,
o poeta, que empunha a caneta
é solido, uma fortaleza.

O homem e o poeta é a mesma pessoa
uma simbiose quase perfeita,
não se apaixone pelo homem,
mas pelo poeta, que empunha a caneta...

quarta-feira, setembro 13, 2006 12:53:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

copiado descaradamente por ai neh!
^^

quarta-feira, setembro 13, 2006 12:53:00 AM  
Blogger tatinha said...

Que empunheta, é isso ae! Hehehehe...

quarta-feira, setembro 13, 2006 1:53:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Oi!! primeira visita ao blog.. talvez já tenha lido anteriormente, mas deve fazer muito tempo.. gostei dos textos.. não consegui ler muitos não.. mas deu pra ter uma ideia.. gostei da sua poesia pro Thiago, enfim.... São Paulo é a loucura real em que minha maluquez superou em muito minha lucidez .. meu Deus!!!

quarta-feira, setembro 13, 2006 1:30:00 PM  
Blogger tatinha said...

Haha... que bonitinho! É tudo oq posso dizer.

domingo, setembro 24, 2006 4:05:00 PM  

Postar um comentário

<< Home